Senhoras Deputadas e Senhores Deputados,
Viemos, por meio desta nota, contribuir para esta audiência pública. Nesta tarde registramos, socializamos e pontuamos algumas considerações sobre esta pauta na perspectiva do nosso tempo político que é de emancipação, transparência, coragem e justiça.
Importante lembrar que somos as que estão nas ruas, nas praças, nos coletivos, nos movimentos sociais que criam e lutam. Diferente do que vem sendo afirmado, somos a esquerda que atua por novas políticas de cultura e novas culturas políticas. Portanto, enumeramos as seguintes questões sobre o Fora do Eixo e a sua recente ressignificação, a “Mídia Ninja”:
1 • Trata-se de uma organização que faz uso de uma estratégia através da qual a mobilização de uma multidão de pessoas que investem suas vidas produzindo gratuitamente conteúdos e relações criativas é, posteriormente, apropriada e vendida de acordo com interesses de governos, bancos e corporações; O que comumente tem sido chamado de “hiper-capitalismo”.
2 • Nos preocupa a rigidez hierárquica e o projeto de poder desta organização. Assim como sua ingerência nas políticas, a intermediação e usurpação de conceitos e práticas de movimentos sociais e populares autônomos e legítimos. Atuam como intermediadores e facilitadores de práticas políticas que muitas vezes só beneficiam a própria organização, deixando de lado interesses da sociedade civil, e agindo sob uma lógica empresarial e
voltada para o mercado.
3 • O “trabalho livre” é considerado trabalho grátis. As recentes e graves denúncias sobre assédio moral, abuso de poder e infrações de direitos humanos básicos nos alertam para a existência de ações criminosas dentro do Fora do Eixo. Existe dentro desta organização, por exemplo, a prática de “Choque e Pesadelo”, tecnologia social instituída para moldar as relações com voluntárias e voluntárias. Consentir violências psicológicas, morais, cidadãs e políticas são mais um retrocesso na garantia e na efetivação de Direitos Humanos. O poder público não deve silenciar diante dessas questões.
4 • A desvalorização de artistas é fato alarmante em um contexto no qual a população brasileira não tem acesso à Cultura, quem dirá, ao fazer artístico/criativo e às políticas culturais.
5 • Esta organização surge com novas roupas, mas afirma-se através de antigas e já conhecidas formas de agir. Justificar a valorização desta prática opressora e análoga a muitas políticas culturais e veículos da grande mídia que combatemos como sendo parte de uma “diversidade cultural” nos remete à estagnação e aos retrocessos vividos também nas políticas culturais e de comunicação no país, através dos quais o consentimento com as formas de opressão à pluralidade de vozes, imaginários e vivências tornou-se legítimo.
6 • Precisamos reparar as vítimas destas práticas e defendê-las. Os anos de luta de muitas pessoas foram extorquidos e as mesmas sequer podem falar sobre os conflitos vividos, pois continuam expostas às violências praticadas por integrantes do Fora do Eixo e tentam apagar da memória as militâncias, os sonhos e as construções de novas práticas que tinham como horizonte a emancipação humana.
7 • Sabemos que a opressão é cultural em nosso país. A opressão de gênero é uma destas culturas. Portanto, repudiamos toda organização que consente esta violência e o poder público que a chancela.
8 • Esperamos que esta comissão apure as denúncias que envolvem o Fora do Eixo. Surpreendemos-nos com o fato desta pauta ter sido prioridade nesta Comissão. A recente criação desta Comissão fez parte de um pleito nosso inclusive. Portanto, nos cabe pontuar que assistir a Comissão de Cultura, uma conquista nossa, chancelar esta organização como benéfica as políticas culturais não avança nas culturas políticas que precisam ser criadas e
praticadas em nosso pais.
9 • O “Fora do Eixo” atua com transparência. Deveriam revelar quais são as dezenas de CNPJs que possuem. Ou esclarecer “Fora” de qual “Eixo” estão, por exemplo.
10 • Nos solidarizamos com o recente “MANIFESTO | Fora do Eixo e uma reflexão das mulheres contra o patriarcalismo” realizado por dissidentes desta organização, no qual pontuam e combatem as violências sexistas praticadas no “Fora do Eixo”. Repudiamos que a vida sexual e afetiva de mulheres sejam utilizadas para manutenção de um projeto de poder sem o consentimento das mesmas.
11 • Construímos, até aqui, um tempo político que prioriza o combate às injustiças, aos abusos, aos assédios, às falácias e, principalmente, aos retrocessos em direitos já conquistados. Portanto, apesar da emenda parlamentar da Dep. Jandira Feghalli que é um instrumento de fomento as esta organização, do Dep. Nilmário Miranda ter um filho parceiro desta firma em Minas Gerais e das relações dos mesmos com a Presidência da Republica consideramos relevante trazer estas questões a este espaço.
12 • A negligência, o ataque e o desrespeito aos direitos humanos e culturais é limite para que atitudes enérgicas sejam tomadas. Esta é nossa cidadania cultural e exercício do controle social das políticas públicas em nosso país.
Brasília, 17 de setembro de 2013.
FRENTE FEMINISTA PELA CULTURA
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